Nesse artigo irei falar de algo, que apesar de não parecer estar tão envolvido com tecnologia, começa a se tornar cada vez algo mais comum e cada vez mais tratado na nossa área: o daltonismo, e as deficiências de cores em geral.
O que é o daltonismo
O daltonismo, também conhecido como discromatopsia, é uma condição de anomalia na percepção de cores. O nome daltonismo foi dado em homenagem ao químico, meteorologista e físico, John Dalton, que foi o primeiro a estudar a condição.
Os tipos de daltonismo
O que muitos se enganam sobre o daltonismo, é que ele é igual para todos, quando na verdade, o daltonismo se expande num espectro que abrange diversos tipos de visões, deficiência de cones e severidade, não apenas no fator de presença ou ausência da percepção de alguma cor, como estarei explicando neste artigo.
Logo, a ideia de que daltônicos veem preto e branco, é bastante errônea, e isso é algo já até observado em alguns profissionais da área da oftalmologia. Aliás, a visão monocromática, não é nem mesmo considerada como daltonismo por muitos especialistas.
Espectro visível
A imagem abaixo serve de referencia para os assuntos que iremos tratar mais a frente, a imagem demonstra o espectro visível de cores para o olho humano, com as cores que quem tem visão normal pode ver.
Nessa imagem podemos ver todas cores percebidas pelo olho humano. Quem tem daltonismo, ainda poderá ver toda extensão de comprimento de ondas percebidas pelo olho humano, a principal diferença é que será capaz de visualizar menos cores, e consequentemente menos tons, quando comparado a quem tem uma visão normal.
Tricromatas anômalos
A grande maioria das pessoas tem uma visão tricromata, ou seja, uma visão composta por 3 tipos de cones, que absorvem ondas de curto (S), médio (M) e longo (L) comprimento, que correspondem ao espectro de cor azul, verde e vermelha, respectivamente, como pode ser observado na nossa imagem de referencia.
Os tricromatas anômalos, tem todos os 3 cones, por isso sua visão é tricromata, entretanto, um ou mais desses cones (S, M ou L), não funcionam como deveriam. Nessa categoria se enquadram três tipos de daltonismo:
Protanomalia
Mal funcionamento dos cones de absorção de luz de longo comprimento (cor vermelha), tendo pico de sensibilidade antes que o comum, em direção a luz de médio comprimento. É uma forma razoavelmente rara de daltonismo.
Quem tem protanomalia, normalmente não vê as as misturas de cores iguais as pessoas com visão normal. Também sofre com o escurecimento no final do espectro vermelho. Isso faz com que o vermelho diminua de intensidade a um ponto que possa ser confundido com o preto.
Conhecido também como daltonismo de verde-vermelho.
Deuteranomalia
Mal funcionamento dos cones de absorção de luz de médio comprimento (cor verde), tendo pico de sensibilidade a frente do comum, em direção ao espectro vermelho. Essa é a forma mais comum de daltonismo.
Diferente da protanomalia, a intensidade das cores permanece. Pessoas com deuteranomalia, tem a percepção do verde reduzida, então, em certos casos, o verde escuro pode ser confundido com o preto (sob certas condições de iluminação). Entretanto, tanto quem tem protanomalia, quanto quem tem deuteranomalia, tem dificuldade em diferenciar pequenas diferenças no espectro verde, vermelho, laranja e amarelo. Podendo dar nomes diferentes aos tons devido a anomalia nos cones. Mas, diferentemente de quem tem protanomalia, eles não sofrem com a “perda de brilho”.
Também é conhecido como daltonismo de verde-vermelho.
Tritanomalia
Mal funcionamento dos cones de absorção de luz de curto comprimento (cor azul), tendo o pico de sensibilidade mais em direção ao verde (médio comprimento). Essa é uma das formas mais raras de daltonismo.
Também conhecido como daltonismo de azul-amarelo.
Como se pode notar, todos esses tipos de anomalias envolvem cones que percebem um comprimento de onda diferente do que deveriam, tendo seu pico de sensibilidade mais a frente ou atrás do que o normal. Dado esse fato, a severidade desse tipo de daltonismo pode variar do menos severo ao mais severo, ou seja, quanto mais próximo o pico do cone anômalo estiver do cone normal, mais severo será o daltonismo, e mais próximo a protanopia, deuteranopia ou tritanopia, estará (definido pelos tipos de cones afetados). O que já serve de introdução ao próximo tópico:
Dicromatas
Nessa categoria, se enquadram os daltônicos que possuem apenas dois cones para percepção de cores, essa é uma forma mais severa de daltonismo.
A principal diferença entre os daltônicos que tem cones anômalos para os dicromatas, é que, os dicromatas tem total ausência de um tipo de cone, o que dificulta a percepção e distinção da cor afetada, já que os cones não estão lá para perceber as cores desse espectro. Devido a essa ausência de um tipo de cone, a cor defeituosa será percebida como uma outra cor diferente. Para ficar mais fácil de entender, veja a imagem abaixo:
Como pode notar, quem tem anomalia nos cones, ainda pode ver a cor, mas o espectro de tons diminui, já quem tem os cones ausentes (ou seja, não tem os cones), não pode ver a cor, e nenhum dos tons dela.
Outra coisa importante levar em conta, é que, dicromatas só tem 2 tipos de cones, se tivessem menos que isso, eles se enquadrariam como monocromatas. Já a anomalia — dos tricromatas anômalos — pode ocorrer em mais de um tipo de cone, mas não quer dizer que o daltonismo é pior nesse caso, dependerá do pico de sensibilidade dos cones.
Nessa categoria, também há três tipos de daltonismo:
Protanopia (verde-vermelho)
Total ausência dos cones de percepção de luz de longo comprimento (vermelho).
Quem tem esse tipo de daltonismo, tem o ponto neutro aproximadamente aos 492nm (ciano), isso quer dizer que eles não podem diferenciar luzes desse comprimento do branco. Para quem tem protanopia, o brilho do vermelho, amarelo e verde é muito reduzido comparado ao normal. Isso quer dizer que, o vermelho pode ser confundindo com o preto ou o cinza escuro.
Quem tem protanopia, pode aprender a diferenciar o vermelho do amarelo, primariamente pelo seu brilho ou claridade. Cores como violeta, lavanda, e roxo, não são distinguíveis dos diferentes tons de azul, já que a cor vermelha que forma essas cores, é tão escura para eles, que é quase invisível.
Deuteranopia (verde-vermelho)
Total ausência dos cones de percepção de luz de médio comprimento (verde).
O ponto neutro desse tipo de daltonismo é aproximadamente aos 498nm (um ciano esverdeado). Eles sofrem dos mesmo problemas de quem tem protanopia, com exceção do efeito de escurecimento. Esse tipo de daltonismo é o mesmo que John Dalton tinha.
Tritanopia (azul-amarelo)
Total ausência dos cones de percepção de luz de curto comprimento (azul).
O ponto neutro desse tipo de daltonismo é aproximadamente aos 570nm (cinza), acima disso eles veem vermelho, diferentemente de quem tem protanopia e deuteranopia, que acima do seu ponto neutro, vê amarelo. Cores como azul, índigo e violeta, são percebidas drasticamente mais escuras. O amarelo e o rosa não podem ser diferenciados, e o roxo é percebido como tons de vermelho.
Abaixo temos mais uma imagem que mostra a diferença entre a visão normal e tritanopia, em outro cenário diferente, com muito mais azul.
Monocromatas
Os monocromatas, por sua vez, são pessoas que não são capazes de perceber nenhuma cor, elas apenas podem perceber a diferença de brilho. Ocorre comumente em duas formas:
- Monocromacia com bastonetes (comumente chamado de acromatopsia): Ausência de qualquer cone para percepção de cores, apenas os bastonetes estão presentes, a visão é bastante complicada em condições normais de iluminação.
- Monocromacia com cones: Presença normal dos cones e bastonetes, mas tendo apenas um tipo de cone, podendo ser apenas cones azuis, verdes ou vermelhos. Nesse caso, não há muitas dificuldades de visão em condições normais de iluminação, mas incapazes de distinguir tonalidades.
Monocromatas normalmente tem maior sensibilidade a luz (chamado de fotofobia), e também comumente apresentam acuidade visual reduzida e miopia.
Muitas fontes não consideram essas ocorrências como daltonismo, pois a dificuldade não é em distinguir as cores, pois nem mesmo vê-las é possível. Sem contar as diversas outras dificuldades e problemas que acabam surgindo junto a esse problema.
Nota do Editor (28/05/2022) — Protanopia vs Deuteranopia
Após muita pesquisa, estudo e entrevista com alguns daltônicos, pude notar uma diferença interessante entre essas duas deficiências de cores:
Devido ao fato dos portadores de Protanopia não terem o cone de ondas longas (L) e verem o vermelho muito mais escuro, é muito mais fácil, sob circunstâncias regulares de luminosidade, distinguir o Vermelho do Verde.
Sim, isso mesmo que você ouviu (leu), a maioria das fontes que encontrei dizem que portadores da Protanopia tem dificuldade de distinguir entre Verde e Vermelho, porém, dizem o mesmo de quem tem Deuteranopia, algo que sempre me confundiu, e essa descoberta foi reveladora para mim.
Quem tem Protanopia não tem dificuldade em distinguir o Verde do Vermelho.
Porém, quem tem Deuteranopia, tem dificuldades em distinguir grande parte do espectro Verde-Amarelo-Vermelho, veja a imagem abaixo:
O cone de ondas longas (L) cobre as ondas de 3 principais cores: Verde, Amarelo e Vermelho. Porém, os cones de onda média (M) também cobre o comprimento de onda dessas 3 cores, com uma diferença muito importante: O cone de onda média cobre muito pouco do vermelho.
E no que isso é relevante?
Justamente na distinção das cores, quando M e L são “estimulados” exatamente na mesma intensidade (ou seja, onde se encontram perfeitamente), é no comprimento de 550nm, ou seja, a cor verde, dessa forma o cérebro interpreta a cor verde.
Em direção ao Azul
Quando o cone M recebe mais estimulo que o cone L, o cérebro interpreta uma cor mais para o verde, porém eles começam a se encontrar (e acabam se encontrando) no inicio das ondas azuis, porém, um pouco antes desse encontro, acontece a distinção entre Azul mais claro ou mais escuro, pois o cone de onda média (M) é mais estimulado pelo azul do que o cone de onda larga (L), por isso quem tem Deuteranopia vê o Azul mais claro.
Em direção ao Vermelho
Quando o cone L recebe mais estimulo que o M, acontece a distinção entre Amarelo, Laranja e Vermelho, pois a percepção do cone M vai diminuindo quanto mais ao Vermelho.
É essa diferença de estimulo entre M e L que ajuda a distinção das cores desse espectro.
Se nós tirarmos o cone de ondas longas (L), perdemos a percepção do Vermelho, mas o cérebro ainda recebe a informação dos cones M. No entanto, os cones M quase não são estimulados pela cor vermelha, e como a ciência já entende que quanto menos luz chega aos nossos olhos, mais escuro vemos, o mesmo acontece com as cores, a falta do cone L faz com que o Vermelho seja, basicamente, uma cor mais próxima ao espectro não visível, ou seja, quem tem Protanopia, é quase cego ao Vermelho.
Porém, ainda assim vemos o Vermelho, mas qual o motivo? A pequena quantidade de Vermelho que nossos cones M interpretam é o suficiente para vermos o Vermelho como outra cor, adivinhem qual… Marrom, ou basicamente Laranja (fim do espectro Amarelo inicio do espectro Vermelho) com muita luminosidade. No entanto, com pouca luminosidade, o vermelho para nós é basicamente preto, e não Laranja, pois está tão no fim do espectro Vermelho que nosso cérebro não interpreta mais como Laranja, na verdade, nossos cones nem são estimulados, o que leva a outro ponto:
Quem tem Protanopia quase não vê Laranja, isso mesmo, Laranja para quem tem Protanopia é praticamente Amarelo, não temos os cones L para ajudar a distinguir entre Amarelo e Laranja, mas ainda temos os cones M, que reagem a grande parte do espectro Amarelo, por isso, vemos Amarelo (só que não tão Amarelo), e muito diferente do Verde em ondas mais próximas do Vermelho. As ondas próximas do Verde, vemos Verde e não Amarelo, e as próximas ao vermelho vemos um Amarelo menos vívido.
E agora vêm o ponto central: qual o motivo de quem tem Deuteranopia sofrer mais com Verde-Amarelo-Vermelho?
Em contraponto da ausência do cone L, a ausência do cone M não te faz perder estimulo de tantas ondas, mas te faz perder uma boa parte da distinção entre as ondas.
Onde eu acredito, nesse caso, que a reação química entre os cones M e L é algo parecido com o cruzamento de informações, se não tiver como fazer esse cruzamento, a categorização é muito mais difícil.
Se ainda lhe soa estranho conseguir “ver” o espectro todo mas ainda ser difícil de distinguir quando se tem Deuteranopia, é só pensar nas cores como categorização por meio de intensidade de informação, quando o cone S tem alta resposta e o cone M e L tem baixa resposta, é Azul, quando o cone S tem baixa resposta, e o M e L tem resposta média porém o cone M tem mais estimulo que o L, temos o verde, e assim por diante, ao tirar o cone M perdemos uma dimensão de informação, o que dificulta a categorização. Obviamente, é uma reação química que ocorre e nosso cérebro interpreta, essa exemplificação é uma simplificação para ajudar o entendimento.
Essa dificuldade da distinção faz com que, quem tem Deuteranopia, não consiga distinguir entre Verde, Vermelho, Amarelo e Laranja, pois não tem o cone M para dizer se o estimulo do cone L provém das ondas do comprimento médio, ou das ondas do comprimento longo, o que faz o resultado no cérebro ser igual ou muito similar para essas cores.
É importante ressaltar que isso é resultado de observações e pesquisas próprias, feitas por mim mesmo, sem documento científico para sustentar. Tentei encontrar documentos explicando exatamente esse comportamento mas sem sucesso.
No entanto consegui coletar informações suficientes para dizer que pelo menos é um fato que o espectro de ondas longas em quem tem Protanopia é mais curto, o que faz o Vermelho ser praticamente preto no final desse espectro. Já com relação ao cruzamento de informações ser responsável pela distinção de cores (categorização, e não visualização), é apenas uma hipótese.
Estatísticas
O daltonismo, por ser uma mutação genética, que pode ser mais comum em algumas linhagens, e em outras não, e mais distribuído em certos países do que em outros, ainda tem suas ocorrências dificilmente mensuradas com exatidão. Entretanto, estima-se que ocorra em 8% dos homens e 0.5% nas mulheres. E as estatísticas seriam as seguintes para cada um dos tipos¹:
- Deuteranomalia: ≃ 6% dos homens. ≃ 0.4% das mulheres
- Protanomalia: ≃ 1% dos homens. ≃ 0.01% das mulheres.
- Protanopia e Deuteranopia: ≃ 1% dos homens. ≃ 0.03% das mulheres.
- Tritanopia: menos que 1% dos homens e mulheres.
- Tritanomalia: ≃ 0.01% dos homens e mulheres.
- Acromatopsia/Monocromacia: Muito incomum, abaixo dos 0.0001%. Entretanto, na Micronesia, a condição é bem comum.
¹: com base nos valores apresentados pelas fontes utilizadas para a construção desse artigo. Esse valores podem variar um pouco em diferentes pesquisas.
Genética
O daltonismo do verde-vermelho (Protan e Deutan), está associado com o cromossomo X, como as filhas herdam dois cromossomos, de sua mãe e de seu pai, naturalmente a condição ocorre mais raramente nas mulheres, mas elas podem ser portadoras do gene afetado. Enquanto os filhos recebem apenas o Y do pai e o X da mãe, podendo ser ou afetados, ou não afetados, mas nunca portadores do gene. Caso o pai e a mãe sejam afetados, ou seja, daltônicos, todos filhos serão daltônicos, independente de serem homens ou mulheres.
Existe uma tabela para compreender melhor a genética da condição, você pode vê-la aqui.
Tritanopia e tritanomalia
Já no caso dos cones de sensibilidade de luz de curto comprimento, estão associados ao cromossomo 7, que as pessoas normalmente tem duas cópias, independente de gênero. Por isso, a ocorrência é igual em ambos os sexos, e também muito rara. E, enquanto o gene de daltonismo verde-vermelho é recessivo, o gene de daltonismo azul-amarelo é dominante, ou seja, se um dos cromossomos apresentar anomalia, mesmo que o outro seja saudável, o daltonismo ainda irá ocorrer.
Tetracromacia
Apesar de não estar diretamente relacionado com daltonismo, 15% das mulheres podem ter um tipo de cone a mais para percepção das cores, conhecido como tetracromacia. Entretanto, raramente elas tem uma visão tetracromata real, com toda estrutura para percepção de um novo canal de cores desenvolvida.
Estudos apontam que essa condição pode estar relacionada com a Tricromacia Anômala, já que quando se observa o comprimento das ondas que esse cone adicional percebe, eles são os mesmos que os tricromatas anômalos tem.
Por outro lado, filhas de tricromatas anômalos podem se tornar tetracromatas, por herdarem tanto os cones corretos como cones anomalos como adicionais.
Causas
O daltonismo não está apenas associado aos fatores genéticos, ele também pode ser adquirido em decorrência do uso de medicamentos, principalmente alguns tipos específicos de antibióticos, durante a infância. Outros fatores, como danos ao nervo ótico ou a retina, pode levar ao daltonismo adquirido, e pode ocorrer em qualquer idade, e igualmente entre os homens e mulheres. Caso ocorra mudanças na percepção de cores, o importante é procurar um médico para avaliar.
Óculos para daltônicos
Até então, daltonismo não pode ser curado, já que envolve mutações ou ausência de cones, que até então, não sabemos como desenvolver e corrigir. Talvez no futuro, com uma terapia genética, poderíamos corrigir o daltonismo.
Entretanto, diversos cientistas e pesquisadores trabalharam juntos e criaram um mercado de lentes para daltônicos, com intuito de corrigir esse problema. No entanto, essas lentes não funcionam para todos tipos de daltonismo, nem mesmo para todas pessoas. Por exemplo, quando há ausência dos cones, o óculos não é capaz de corrigir, já que independente da técnica aplicada, não haverá cones especializados para absorver a cor em questão. Ou seja, dicromatas raramente terão algum resultado bom, e mais dificilmente ainda monocromatas. As chances dos óculos não fazerem diferença alguma em ambos os casos é extrema (se não absoluta), devido a ausência dos cones.
Para a maioria dos daltônicos, que são tricromatas anômalos, se as lentes irão funcionar ou não, e o quão bem irão, vai depender do tipo e a severidade do daltonismo. Quem tem tritanomalia, dificilmente achará lentes que possa ajudar na sua visão, já quem tem deuteranomalia e protanomalia, existem algumas marcas de lentes disponiveis no mercado, mas provavelmente, esses óculos deverão ser importados, caso tenha objetivo de adquirir-los, e são extremamente caros para nós brasileiros.
A maioria dessas lentes de correção funcionam filtrando a luz que entra, e corrigindo o ponto neutro da cor especifica, para que seja o máximo possível próximo do que seria da visão normal, afetando as ondas de comprimento médio e tentando ao máximo manter intacta as ondas de comprimento curto e longo. É relatado, por uma das marcas mais famosas, que 75% das pessoas com daltonismo tem um bom resultado com estas lentes. No entanto, elas não são mágicas, se elas funcionarem, a pessoa não terá uma experiência de uma visão perfeita, mas algo próximo a isso, talvez o mais próximo que conseguimos chegar no momento.
Teste de daltonismo
O teste mais comum e muito utilizado pelos médicos, para diagnosticar o daltonismo, é o teste de Ishihara, criado pelo oftalmologista Japonês, Shinobu Ishihara.
Esse teste consiste em apresentar uma série de esferas com círculos pintados em diferentes tons e com diferentes tamanhos, formando um número ou desenho na figura, no qual, quem tem visão normal, pode visualizar perfeitamente, enquanto quem tem daltonismo, não irá ver nada ou ver um número ou desenho diferente. O teste é desenhado dessa maneira justamente para diagnosticar os diferentes tipos de daltonismo.
O teste tem várias edições, e cada uma com quantidades diferentes de figuras, usadas para diagnosticar diferentes tipos de daltonismo e sua severidade, com base nos números que você vê, ou não vê, um exemplo é a figura abaixo:
Caso não veja o número 6, calma, algumas telas tem uma calibração de cores diferente de outras, e muitas vezes modos diferentes para diferentes propósitos. Teste em diferentes telas, nos seus portáteis, nos monitores, até na sua TV, se for possível, se ainda assim não puder ver, você pode tentar um dos testes abaixo de daltonismo:
- EnChroma: Teste de uma das marcas mais famosas de lentes corretivas para daltônicos.
- ColorBlindness: Um site muito famoso com diversos testes diferentes de daltonismo, você pode dar uma olhada em outros testes deles, aqui.
Realize-os em diferentes telas se for possível. Ambos os testes acima podem dizer se você tem daltonismo e o quão severo ele é.
Os testes em português são poucos, e dispões de pouca informação sobre qual tipo de daltonismo você tem, mas você pode dar uma olhada nesse aqui, caso queira.
Experimente fazer os testes também com alguém do seu lado, isso vale tanto para ela te ajudar, como para coincidentemente descobrir ser daltônica também, já que muitas pessoas passam a vida toda sem saber.
Recomendo também dar uma olhada nesse vídeo do Manual do Mundo:
Consulte um oftalmologista
Caso não tenha passado nos testes, ou desconfie que tenha daltonismo, o mais recomendado é consultar um oftalmologista de confiança, procure os mais bem avaliados e pergunte o máximo possível, assim eles poderão sanar todas suas dúvidas sobre a condição.
Tenho daltonismo, e agora?
Fez os testes, consultou um oftalmologista, foi diagnosticado, e agora?
Você pode testar as lentes corretivas, apesar de extremamente caras, e ver se elas te ajudam. Mas não se preocupe, apesar de 8% parecer uma taxa pequena, pode ter certeza que muito provavelmente, você conheça pessoas daltônicas que nem elas mesmas saibam que elas são. Aproximadamente 1 em cada 12 homens são daltônicos, e 1 em cada 200 mulheres, já que a condição é bem incomum nelas.
Acessibilidade
Atualmente, muitas companhias vem dando atenção ao daltonismo, conforme o repositório de serviços cresce e a internet se torna cada vez mais acessível, a atenção a acessibilidade torna-se cada vez mais importante, visto que, quanto mais acessível, maior o público atingido e maior a satisfação desse público.
E nós desenvolvedores, devemos estar cada vez mais atentos a essas condições, principalmente os envolvidos com o planejamento e desenvolvimento gráfico, em jogos, sites, logotipos, interfaces, e principalmente, quem tem como objetivo fazer uma apresentação gráfica com intuito de disseminar a informação de forma mais acessível.
Aqui darei algumas dicas de como tornar mais acessível para os daltônicos, mas é importante sempre estudar a melhor abordagem para outras deficiências visuais, e demais deficiências de outros espectros, como auditiva e motora.
Como tornar mais acessível aos daltônicos?
É extremamente difícil ter algo 100% acessível para todos públicos, por isso, a estratégia de alguns times, principalmente do desenvolvimento de interface e jogos, é ter diferentes modos focados em diferentes tipos de daltonismo (deuteranopia, protanopia e tritanopia), algumas das abordagens são:
- Aplicação de filtros.
- Escolha da paleta certa de cores.
- Utilização de assistência visual (ícones, textos, etc), em conjunto com as cores.
As formas mais efetivas de melhorar a acessibilidade são a escolha correta da paleta de cores, e a utilização de assistência visual, dado que a aplicação de filtros pode resultar em combinações de cores mais difíceis ainda de serem distinguidas. A utilização de assistência visual dispensa os modos de daltonismo, já que é uma linguagem universal, não só para os daltônicos.
A aplicação de filtros tem um problema inerente da sua natureza, a ideia dos filtros de cores é justamente deslocar as cores no espectro, e não para adaptar as cores para os daltônicos, basicamente isso faz com que apenas o nome das cores mudem, a confusão continua a mesma.
Por exemplo, ao invés de confundir Verde e Laranja, ao mover as cores todas juntas, agora vou confundir Laranja e Amarelo, e quando as cores deslocarem de mais e eu não confundir o Laranja e o Amarelo, vou confundir o Laranja e o Vermelho, onde antes, com Verde e Vermelho, eu não confundia (pois tenho Protanopia), e se jogar o Vermelho pro Violeta, agora vou confundir o Azul e o Violeta, ou seja, o filtro pode resolver uma confusão e criar outra, e até pior que antes.
Eu, como portador de Protanopia, não lembro uma vez sequer que eu tenha confundido verde e vermelho. Então lidar com a falta de cores trocando as cores é como tentar lidar com a perda de audição deixando o som mais grave ou mais agudo, que tal fingir que os sons não existem e pensar em outra forma? A mesma coisa com as cores, ou dê a opção ao daltônico de escolher as cores, pois ele sabe quais ele distingue ou não melhor que ninguém. Ainda assim, e quem tiver um daltonismo mais raro, como monocromacia? Você terá só uma ou nenhuma cor para trabalhar com, utilize formas geométricas, sinais sonoros, há tantas possibilidades, esqueça as cores.
The Outer Worlds é o melhor exemplo disso, as cores do jogo não importam, e por isso, não precisaram nem implementar modo para daltonismo, e claro com menção honrosa ao Tim Cain.
A escolha da paleta de cores
Para se escolher uma paleta de cores facilmente distinguível por daltônicos, é importante, primeiramente, desconsiderar as anomalias, e focar nas ocorrências de ausência de cones, pois tornando acessível para esses casos, automaticamente os casos de anomalia já são resolvidos. Entretanto, caso queira mais acessibilidade, modos distintos são bem vindos, só cuidado para não esquecer das combinações de mais de uma anomalia e diferentes severidades, isso pode dar bastante trabalho.
Para se trabalhar na acessibilidade por meio de paletas diferenciadas para cada tipo de daltonismo, é bastante importante estudar bem o espectro de cores que os daltônicos veem, e utilizar apenas as que eles podem distinguir em cada tipo de paleta. Uma boa forma de testar isso, é utilizando filtros que simulam os tipos de daltonismo, muitos editores de imagem dispões desses filtros, inclusive o GIMP e o PhotoShop. Também há ferramentas na internet, inclusive a que utilizei para demonstrar os diferentes tipos de daltonismo, como o Coblis, também existem extensões de navegadores que podem fazer isso e aplicativos para dispositivos móveis.
Mas, mais importante que fazer todo o trabalho na escolha de paletas, é sempre receber o feedback de quem tem daltonismo, só assim para alcançar a melhor solução. Também é interessante ter alguém daltônico na equipe para dar um feedback mais detalhado, e entender melhor as dificuldades que eles tem no dia a dia.
Vale notar que, poucos times adicionam modos para monocromacia, primeiramente devido a natureza rara da condição, e por ser bastante difícil adaptar a uma visão monocromática, já que todas cores deverão ser removidas e apenas tons de cinza poderão ser usados.
Assistência visual
Essa é a abordagem mais universal, mas nem sempre pode ser aplicada no projeto. Nessa abordagem, símbolos e textos são usados para descrever o significado dos elementos, tornando assim mais fácil a compreensão do mesmo.
Por exemplo, em elementos coloridos, utilizar uma simbologia única para cada cor, como o símbolo de menos (-) para o vermelho, o símbolo de mais (+) para o verde, conforme suas funções. Ou até mesmo ícones que representem a funcionalidade de forma clara, como uma lata de lixo em um botão vermelho que tem a função de apagar algo.
Curiosidades e fatos
Por fim, algumas curiosidades e fatos relevantes sobre o daltonismo:
- Daltônicos podem não saber que são daltônicos durante toda a vida, ou descobrir tardiamente.
- Daltônicos podem dar nomes diferentes as cores por associação, dando a entender que eles veem essa cor, por exemplo, um daltônico com protanopia pode chamar todo verde de vermelho, sendo que ele não vê vermelho, e pensar que nunca viu verde na vida, quando na verdade é o contrário. Isso acontece pois, como não é possível distinguir ambas as cores, ele pode associar uma palavra, no caso, vermelho, com algo que viu, e como não há outra cor perceptível para associar a palavra verde, ele simplesmente acha que não pode ver a mesma.
- Daltônicos podem facilmente se adaptar ao mundo, associando palavras que remetem cores aos objetos que vê, ao invés da cor que vê, como as pessoas com visão normal fazem. Por exemplo, associar vermelho ao sangue, pois todos dizem que o mesmo é vermelho, mas vê-lo verde, ou associar a sequência do semáforo ao vermelho, amarelo e verde, sendo que não consegue ver o verde. Também podem aprender a distinguir as cores pelo seu brilho, em alguns casos.
- Uma pessoa pode ter um olho normal e um daltônico, podendo ser chamado de dicromatas unilaterais, ou tricromatas anomalos unilaterais.
- Existem comunidades voltadas para daltonismo, como essa no Reddit.
- Daltônicos são frequentemente questionados sobre qual a cor que eles veem em certos objetos, muitas vezes, por parte da curiosidade das pessoas, mas alguns daltônicos podem não gostar, e outros podem achar divertido (como eu).
- Daltônicos podem muitas vezes não saber dizer qual a cor de algo, e ficar alguns momentos olhando a cor tentando entender o que veem. Isso pode ser por parte de uma confusão associativa, onde o daltônico pode associar mais de uma cor para algo, mas ao mesmo tempo saber que é impossível ter mais de uma cor no que está vendo. Eles podem expressar ver mais de uma cor ao mesmo tempo (sem ser uma mistura das duas cores), ou em certos momentos, dizer uma cor ou outra para o mesmo objeto/elemento (não encontrei estudos científicos comprovando essa hipótese, mas faz sentido).
- Na guerra, daltônicos percebiam mais facilmente os inimigos camuflados no campo de batalha, quando comparados a pessoas com uma visão normal.
- Em alguns países, daltônicos não podem pilotar, servir o exercito, tirar habilitação, ou trabalhar em áreas onde dependam exclusivamente das cores. Apesar das leis estarem mudando e sempre estarmos tornando as tarefas mais acessíveis aos daltônicos, um grande caminho ainda deve ser percorrido.
- O autor deste artigo, tem protanomalia moderada.
Nos testes que a maioria dos oftalmologistas tem, principalmente no Brasil, não é fácil determinar se você é tricromata anômalo ou dicromata, apenas se é daltônico e o tipo de daltonismo e a severidade, mas você pode se fazer algumas perguntas básicas para descobrir isso: seu daltonismo é severo? Se não for, dificilmente é dicromata, já que dicromatas só tem dois cones e é um dos tipos mais severos de daltonismo. Você consegue notar diferença nos espectros entre dicromacia e tricromacia anômala? Se sim, provavelmente é tricromata anômalo. Mesmo assim, não é exato, mas dificilmente achará especialista com o equipamento necessário para aferir isso, como um anomaloscópio.
Referências
Color deficiency — color blindness — Thomson