Death Stranding — Review [sem spoilers]

Jonathan
13 min readDec 6, 2019

Death Stranding, um jogo cheio de mistérios e polêmico, sendo apelidado de walking simulator, simulador dos correios, ou jogo do iFood/UberEats. Veio com a ideia de ser um jogo diferente do que estamos acostumados, com mecânicas diferenciadas e uma premissa nunca antes vista.

Introdução

O intuito desse artigo é fazer um review com base nas minhas impressões do jogo, eu nunca joguei um jogo do Hideo Kojima antes, e a minha primeira vista, meses antes do lançamento do jogo, após tomar conhecimento do jogo e ver o seu trailer, esse não seria o tipo de jogo que me agradaria. Antes de jogar qualquer jogo assim, gosto de assistir os primeiros 20m a 30m de gameplay e tirar minhas próprias conclusões, mas com todo o hype, comprei o jogo na pré-venda, entretanto, ainda sem muitas expectativas.

Manterei os spoilers no mínimo possível, contando apenas pequenos detalhes da história para que seja possível passar a ideia principal do jogo. Não contarei nada que possa afetar a experiência de quem ainda não zerou ou que ainda não teve a oportunidade de jogar.

Informações que serão reveladas

Com o intuito de deixar claro o que estarei exibindo no artigo, fiz essa sessão para que se tenha ciência do que estarei revelando no artigo:

  • Chuva temporal (o fenômeno que assola Death Stranding)
  • EPs/BTs
  • Principal vilão
  • Algumas cenas
  • Paisagens
  • Músicas

O que você não verá aqui:

  • Qualquer coisa sobre BBs

Critérios de avaliação

Nesse review estarei dividindo a avaliação do jogo em 4 categorias:

  1. História — uma breve introdução
  2. Mecânicas de gameplay — como que é a jogabilidade e como funciona o mundo do jogo.
  3. Gameplay — como é o jogo como um todo.
  4. Arte —Gráficos, paisagem, música, cut-scenes.

No final farei uma análise do jogo como um todo, agregando todas categorias.

História

A história do jogo se passa em uma América pós apocalíptica, vítima de um evento até então misterioso, com o protagonista, Sam Porter (interpretado por Norman Reedus), realizando uma função que agora é essencial para o futuro da humanidade: Sam é um entregador.

Sam Porter na primeira cidade do jogo.

Esse evento misterioso transformou o planeta em um lugar hostil, levando as pessoas que sobreviveram a viver em abrigos subterrâneos, longe do contato com o mundo exterior (na maior parte do tempo). E o que torna o mundo tão perigoso? A chuva temporal e seres que aparentemente ficaram presos entre o mundo dos mortos e o dos vivos, e que são extremamente perigosos.

Os entregadores passam a ser bastante importantes após o evento Death Stranding, já que os robôs e drones de entrega deixaram de existir por certas razões. As pessoas precisam de suprimentos e recursos de pesquisa para descobrir mais sobre o evento, e é ai que Sam Porter entra, levando esse suprimentos de uma base para outra, e as vezes, até recuperando suprimentos roubados pelos MULAs. Sam também tem outra função essencial, que eu não revelarei aqui.

A chuva temporal

Inicio de Gameplay —Captura retirada da página do jogo na Playstation.

A chuva temporal é o evento que agora domina o mundo de Death Stranding, sendo imprevisível e acelerando o tempo para tudo que toca, parte disso demonstrado no início do jogo, com o os pássaros morrendo, as plantas com ciclo de vida acelerado e um pequeno ponto do cabelo de Sam, ficando branco, após uma gota de chuva cair nele. Para evitar isso, os entregadores andam com uma roupa especial e touca que impede que a chuva os atinja, e consequentemente, os envelheça.

EPs/BTs

Os EPs (ou BTs, se o jogo estiver em inglês) são aparentemente uma espécie de ser que ficou preso entre os dois mundos (dos vivos e dos mortos), eles são uma das outras ameaças desse mundo, sendo a mais perigosa de todas. Sam não pode vê-las, nem matar e nem expulsar elas, sendo obrigado a evitar elas ao máximo. Entretanto, Sam pode senti-las, o motivo disso é revelado no decorrer da história.

Os EPs, que tem suas naturezas explicadas num ponto mais avançado da história, são tão perigosas pois podem te puxar para o outro mundo (ou seja, te matar). O que acontece depois de ser puxado, você terá que descobrir jogando (ou vendo a versão do meu artigo com spoilers, se preferir). O que fica bem explícito no jogo, desde o começo, é que as EPs e a Chuva Temporal tem forte relação uma com a outra.

MULAs

MULAs — Captura retirada da página do jogo na Playstation.

Os MULAs são os menos preocupantes dos problemas, eles são entregadores obcecados por entregar, e tentarão roubar sua carga a todo custo. Eles também fazem entregas normais como qualquer outro entregador, mas as vezes são um pequeno desafio que aparece no caminho. Entretanto, eles adicionam pouco a trama da história (no meu ponto de vista).

Higgs

Higgs— Captura retirada da página do jogo na Playstation.

Higgs é o principal vilão, suas motivações e objetivos são um mistério, e, apesar de ser o principal vilão, ele aparece com pouca frequência no jogo, mas detém habilidades que ninguém mais detém, e o motivo disso também não é explicado no começo.

Higgs surge apenas em momentos específicos, e é uma das partes essenciais da trama.

Avaliação

Com relação a história, achei muito bem feita e envolvente, a maior parte das dúvidas são sanadas durante o gameplay, principalmente as essenciais para entender os personagens e o mundo do jogo. É claro que nem todas dúvidas são respondidas, mas isso condiz com o que o jogo vem apresentando desde o começo, o próprio evento Death Stranding é cheio de mistérios.

É uma história sensacional, mas, como ainda irei falar mais a frente, se você jogar só pela história, provavelmente irá se sentir frustrado, o jogo é lento, e como consequência, a história é lenta. Não digo que seja ruim, muito pelo contrário, amei essa pegada de ir devagar, se envolvendo com o mundo, e descobrindo aos poucos, talvez por eu ter recentemente finalizado outro game onde a história tem quase o mesmo ritmo. Mas, esse não é um jogo onde você consegue acelerar a história.

A história é realmente sensacional e vai te impressionar, e, provavelmente, você vai se emocionar.

Mecânicas de gameplay

Sam carregando uma pilha de cargas nas costas.

As mecânicas de Death Stranding são bastante diferentes do que já vimos em qualquer outro jogo, por obviamente, incluir um conceito que nunca foi visto antes, o de ser um entregador.

As cargas tem pesos e tamanhos diferentes, e isso reflete em como você se movimenta, se tem tendência a desequilibrar mais facilmente ou não. Além do peso e a quantidade afetar sua movimentação, algumas também tem critérios diferentes de entrega, o que adiciona, de certa forma, mais desafios. Entretanto, não senti que essa mecânica tivesse tanto impacto na jogabilidade, ela apenas acaba por limitar, de forma discreta, quanta carga você consegue carregar a pé.

Movimentação a pé

A minha impressão sobre a movimentação a pé, principalmente quando se está carregando algumas cargas, é que o Sam tem bastante tendência a se desequilibrar, principalmente se você correr, isso fica mais evidente quando você faz pilhas altas de carga em suas costas (o que é esperado de acontecer nesse caso).

Entretanto, muitas vezes, Sam se nega passar por cima de pedras baixas, subir em rochas ou virar na direção esperada, isso é reflexo da movimentação mais realista, porém, já joguei jogos com uma movimentação mais realista que a de Death Stranding e não senti tal efeito. Não que falte polimento no quesito de movimentação ou que não tenha sido bem feita, o jogo é muito bem polido, e talvez, a movimentação devia funcionar assim mesmo, mas ela me fez ficar frustrado algumas vezes, e, foi uma das coisas que não me agradou.

É apenas minha opinião com base no que gosto, há quem tenha gostado das mecânicas, e não há nada de errado. Eu também não tive grandes contravenções, quedas diversas vezes ou coisas do tipo apenas não me agradou (aliás, tive apenas 6 quedas nas minhas 48h de jogo).

Veículos

Você não terá acesso aos veículos no começo do jogo, e mesmo quando tiver, você ainda será forçado algumas vezes a não usar ele, esteja preparado para abandona-los.

As mecânicas com veículos são boas, mas você não vai passar todos cenários com eles, na verdade, eles facilitam rotas que já tenham caminhos prontos, mas não as que não tenham. Você até pode atravessar montanhas com eles, só vai precisar de muita paciência, cuidado e técnicas.

Também é muito fácil certos acidentes acontecerem enquanto está com um veículo, principalmente durante animações especiais, que aparentemente não tiverem uma boa implementação, e que levasse em consideração alguém andando em um caminhão a algumas dezenas de km/h. Nesses casos, o controle do veículo trava, mas o mesmo continua andando em linha reta e com você totalmente fora de controle, isso pode simplesmente te levar para o fundo de um buraco.

Ferramentas de movimentação

Mais para o meio do jogo, você terá acesso também a ferramentas e construções que ajudam na mobilidade do personagem.

Essas ferramentas ajudam tanto que se você utilizar elas com cautela e bastante estratégia, você fará diversas entregas em pouco tempo e irá acelerar o jogo.

Essas ferramentas até tornam veículos quase inúteis, com a exceção que não permitem que mais carga além das que estão na suas costas, sejam levadas.

Mecânicas de construção

Com relação as construções, elas são mecânicas mais simples (não ruins, mas simples, são ótimas mecânicas).

O sistema de construções tem um ótimo feedback visual e é bem interativo, e também não há muitas cerimônias para construir algo. Só ter os recursos e colocar no terminal da construção. Muitas vezes nem recursos são necessários além do CQP (a caixinha de construções).

Mecânicas de combate

Já com relação a combate, o foco do jogo definitivamente não é combate, mas Sam Porter sabe brigar quando necessário, e as mecânicas que vão além de lutas com cordão, também são muito boas.

Quando se trata de ferramentas de combate, elas não ficam todas rapidamente acessíveis como o cordão de Sam. Essas ferramentas são como a maioria das cargas de entrega, com uma única diferença, elas não ficam em recipientes, mas sim em suportes. Entretanto, elas ainda demoram certo tempo para serem equipadas.

Interface

A interface do jogo foi um dos pontos que também me deu um certo desagrado, mas que ainda assim, foi apenas questão de adaptação até que eu fosse capaz de utilizá-la com bastante conforto.

Existem bastante recursos úteis na interface, e, por ser um jogo onde se gerencia bastante suas cargas, você certamente utilizaria alguns recursos de múltipla escolha e coisas do gênero, como auto-organização, e isso não faltou, bem como condições de entrega, peculiaridades da carga, e coisas do gênero, são informações acessíveis na interface, até mesmo o que se pode esperar no trecho.

Por outro lado, certas informações, tive dificuldade, ou não encontrei na interface, como o estado do veículo, ou a topografia do terreno, que descobri como visualizar acidentalmente enquanto lia posts no reddit.

Em geral, a interface é relativamente boa, mas ela tem bastante informações, algumas pessoas podem se perder no começo, mas com o tempo se adapta. Outras já podem achar ela ótima e não ter nenhum problema com ela.

Gameplay

O gameplay de Death Stranding é basicamente fazer entregas, a história do jogo não avança rapidamente, muito pelo contrário, os avanços na história muitas vezes são mínimos a cada entrega, até certo ponto do jogo, onde ela começa a dar uma acelerada (mais para o final). Na maioria das vezes você estará tentando lidar com o terreno e outras adversidades que dificultam suas entregas.

No jogo você pode levar um certo tempo para concluir cada entrega, e muitos podem achar isso repetitivo, já para mim, não foi, encarei cada entrega como um desafio, e é isso que elas são. Algumas entregas são mais fáceis que outras, mas na maioria, você tem obstáculos no caminho que dificultam você concluir a missão, como você encara essas dificuldades depende do seu estilo pessoal de gameplay, mais lento e defensivo, ou mais acelerado e agressivo.

Em certos pontos do jogo, uma mecânica diferente do convencional é apresentada, com uma frequência entre mediana-baixa, onde você terá que sair da zona de conforto do jogo e fazer algo diferente, as vezes você terá que descobrir o que deve ser feito, outras vezes você terá surpresas que mudarão toda a sua abordagem.

No meu ponto de vista, Death Stranding não deve ser rushado, na expectativa de avançar na história o mais rápido possível, e sim, deve ser jogado como se estivesse encarando uma obra de arte, observando cada detalhe, pois é isso que Death Stranding é.

Arte

A arte do jogo é magnífica, a história como arte é algo incrível, que não tem como igual, e há revelações nela até o último momento de jogo. A própria história depende de muita ligação feita durante todo o jogo, onde pequenas coisas são soltas para você entender uma pequena parte, e no final juntar tudo como um quebra cabeça. Você vai conhecendo os personagens com o tempo, e frequentemente eles te comunicam para passar mais coisas sobre a história. Você não terá ligação com todos personagens, já que vários só fazem apenas uma breve introdução. Mas é uma história de se emocionar, se você prestar atenção, já que é muita informação.

Música

Não podia deixar isso de lado, eu simplesmente me apaixonei pelas músicas, elas são muito calmas e são introduzidas nos momentos certos de gameplay, isso traz uma ambientação sem igual.

Death Stranding tem músicas incríveis, fazia tempo que não ouvia algo novo que despertasse meu vício (e olha que eu amo música). A playlist do jogo é minha nova playlist predileta.

Artes visuais e gráficos

O mundo de Death Stranding é lindo, tem diversas paisagens e os gráficos também são muito agradáveis, a Kojima Productions fez um trabalho sensacional com a Decima Engine, tanto que nem parece que foi o mesmo motor que foi usado em Horizon Zero Dawn.

Na minha opinião os gráficos estão lindos — apesar de eu estar rodando em 1080p com supersampling apenas, e não em 4K — e a paisagem se traduz da mesma maneira. A ambientação reflete muito bem em um mundo pós apocalíptico com vários sobreviventes, não só com as tragédias que foram causadas pelo evento em si, mas também com as causadas pela chuva temporal.

Acessibilidade visual

É um critério de menor relevância, mas que ganha pontos. Por eu ser daltônico frequentemente tenho problemas com jogos, mas em Death Stranding, não tive problema algum, talvez o jogo, assim como em The Outer Worlds, seja feito para que daltônicos não tenham dificuldades. Também não encontrei relatos de pessoas perguntando sobre modo daltonismo no jogo, o que indica que talvez as pessoas não tenham tido problemas, e isso é positivo.

Análise final

Death Stranding é um jogo incrível, apesar de que eu não recomendaria para todos, pois a pegada do jogo ao meu ver, é muito mais artística (para ser observado com olhos para arte), e não uma pegada com muita ação.

O jogo tenta te passar o sentimento de Sam Porter de ser um entregador em um mundo pós apocalíptico com ameaças imprevisíveis, e faz isso muito bem, o que nem todas pessoas irão perceber, ou gostar.

Já a caminhada da história, que envolve uma humanidade que ainda não sabe muito sobre o Death Stranding, conforme vai fazendo as entregas, você percebe os avanços nas descobertas, e isso te deixa curioso, e você terá as respostas, mas antes, você terá que passar algumas horas fazendo entregas, e a maior parte do jogo é assim.

O jogo em si é muito devagar o tempo todo, se você está acostumado a jogar todo jogo como se fosse um speedrun, infelizmente Death Stranding não irá agradar, ele não tem essa velocidade.

Death Stranding, assim como muitos jogos que querem te contar uma história, vão tentar te fazer conectar com os personagens, e para isso você tem que sentir empatia por eles, Death Stranding faz isso te colocando na pele de Sam Porter e de outros personagens, tudo isso por meio de diferentes sentimentos refletidos no jogo, e para mim, como para muitos outros, isso funcionou muito bem.

No final o jogo é bastante tocante, ele sana muitas das suas dúvidas e é incrível (acho que disse essa palavra várias vezes), eu com certeza recomendaria para quem está disposto a se comprometer com a premissa e olhar o jogo de forma diferente do que olham outros jogos, pois Death Stranding não tem o mesmo estilo de gameplay de nenhum outro jogo, não dá para analisar como um jogo totalmente de ação, pois ele não é só ação, nem como aventura ou shooter.

O jogo também não teve grandes bugs em seu lançamento, na verdade não me dei de cara com quase nenhum (só me lembro da opção de legendas trocada).

Para se admirar Death Stranding deve ser capaz de aceitar novas premissas de jogos com uma pegada diferente de gameplay, e não apenas querer algo novo de uma ideia completamente já existente. E como todos jogos, ele não irá agradar todos, mesmo que olhem com olhos diferentes do que as pessoas estão acostumadas a olhar para jogo. Assim como uns não gostam dos jogos que estão na indústria atualmente, outros não irão gostar das novas ideias que venham a surgir, como a de Death Stranding. Mas o que não se pode negar é que Death Stranding é uma obra de arte, que um trabalho incrível foi feito, não só no jogo, como na escolha da trilha sonora, paisagens, e na própria história.

Apesar do que eu ouvi bastante sobre o jogo, ele não foi nem um pouco cansativo e nem repetitivo, claro que eu variei bastante na maneira que concluía cada entrega, mas no final, senti que gostaria que ele fosse maior, pois foram apenas 48h de gameplay até finalizar, fazendo apenas algumas missões secundárias. Para notar como as opiniões se divergem bastante, para se perceber que o jogo tem um público em específico, você ira notar muita gente chamando o jogo de repetitivo, enquanto vários outros fizeram várias e várias missões secundárias de entrega, tem dezenas de horas a mais que o necessário para finalizar, e ainda assim continuam fazendo essas missões, isso não é apenas sobre gostarem do Hideo Kojima, isso é por terem gostado da premissa do jogo em si, e isso é normal.

Em breve estarei publicando a versão com spoilers, abrangendo o jogo como um todo do começo ao fim, também estarei falando sobre os recursos online do jogo, então, aguardem.

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Jonathan
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Written by Jonathan

Developer, Bytecode Engineer, Cyber security analyst, Workaholic, Critic, Writer.

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